No caminho pro trabalho essa semana me deparei com um pai pedindo que uma rádio local não desse as notícias policiais no jornal da manhã porque suas crianças ouviam o também o programa e ficavam curiosas a respeito das mortes, assaltos e afins do mundo do crime. Engasguei...
Na minha timeline no Instragram, chega até mim o perfil de um menino de 12 anos se exibindo em looks muito ousados, mostrando corpo, fazendo caras de bocas e deixando claro que é solteiro. Vou dizer de novo: a garoto tem D-O-Z-E A-N-O-S e avisa que está S - O - L - T - E - I - R - O. A mensagem nem um pouco subliminar grita que ele estaria "aberto" a relacionamentos...
Outro "causo" é de mais um pai que perguntou num perfil também local quem seria um certo youtuber de quem o filho estava assistindo vídeos. Dessa vez a lucidez do administrador da página amenizou meu espanto: ele sugeriu que o pai assistisse aos vídeos do influencer e decidisse se o conteúdo é adequado ou não para sua criança.
Como professor de ensino fundamental não canso de me espantar com o tipo de conteúdo digital que crianças e adolescentes consomem sem controle dos pais. Muitos, inclusive, enxergam a escola e o smartphone como babás e tutoras com plenos poderes para educarem (inclusive sentimentalmente), divertirem e conterem todo e qualquer impulso que seus babies possam ter.
Toda vez que presencio situações como as relatadas acima, a pergunta "cadê os pais" me martela o juízo. Uma tristeza reconhecer que pais e mães que delegam a criação da prole nunca cogitariam conhecer alguma coisa do pesquisador Orozco Gomes. Nos anos 1980 ele descobriu que a televisão já era babá na Argentina. Quarenta anos depois, a ama eletrônica está na mão de crianças e adolescentes e conectada com todas as tendências sem limite de idade...
Nestas quatro décadas, Orozco tem-se dedicado a entender como as mídias afetam a formação das pessoas, desenvolvendo pesquisas no cruzamento dos campos da comunicação e educação. É ele quem diz que a mídia se instala onde há espaço. Em miúdos não é função da TV, rádio e internet educarem quem quer que seja, mas na falta de quem o faça, seu conteúdo cumpre a tarefa.
O cientista mexicano também empenha-se em popularizar a cidadania midiática cujo objetivo é ensinar pessoas de todas as idades a consumir programação dos meios de comunicação de forma consciente e responsável.
Não é função da mídia educar, mas na falta de quem o faça os meios de comunicação assumem o papel
Tendo a acreditar que pais negligentes com o acompanhamento na educação formal e sentimental dos filhos devem ser fruto das tais babás digitais ou gostam tanto de gatos que criam seus filhos na base como se eles assim o fossem. O sistema se baseia na premissa do "te dou casa e comida, o resto é com você".
Quando um pai ou mãe pede para uma rádio mudar sua programação porque o filho não pode ouvir nada sobre violência, não está sendo cuidadoso; na verdade isso é terceirizar o crescimento da criança...
Na impossibilidade de não me indignar com a atitude do pai, segui para a escola naquele dia me perguntando por que ao invés de censurar a programação da rádio, ele não mudou de emissora. Explicar o que é violência para a criança de uma forma que ela entenda também não seria um opção? E afinal, por que uma criança estaria ouvindo um programa de rádio feito para ADULTOS?
Essa última pergunta eu mesmo respondo: provavelmente o pai ou a mãe não queria abrir mão do seu prazer momentâneo para focar na proteção assertiva e amadurecimento sadio de sua criança. É por conta desse tipo de atitude "inofensiva" que seu filho/filha pode desaparecer da porta da escola e ser encontrada em cativeiro num cidade do outro lado do país depois de percorrer milhares de quilômetros em um Uber...
VERDADES QUE PRECISAM SER DITAS E, INFELIZMENTE, SÓ OUVEM MUITO TARDE. Obrigado Eugênio, fica registrado o alerta.
É incrível como essas "pessoas" se classificam como cuidadosos com os filhos terceirizando responsabilidades e principalmente atenção psicológica aos seu "filhos amados".... Crianças/adolescentes, realmente Não São Gatos! Necessitam de um olhar atento e AMOROSO de que se diz "responsável" por eles.
Verdade.A maioria dos pais esquecem que são eles que devem tá cuidando do que seus filhos veem,não dizendo que a mídia só tem conteúdo apropriado,mas é impossível esse controle…já os filhos,creio seja os pais a controlar até ficarem adultos e tomarem suas próprias decisões.
problema hj…são pais que não querem ter trabalho em educar e cuidar…jogam para o celular que dão, muito cedo, para as crianças.Assim…ficam na “paz”.