Todo mundo sabe de onde veio o tiro e ele acertou bem na cabeça de milhões de brasileiros. Gostem dele ou não, o funk ganha mais e mais fãs (e artistas) todos os dias. Não conheço gênero musical mais popular no país na atualidade - não faz distinção de raça, cor, credo, idade e estrato social. Ídolo circunstanciais e músicas brotam nas redes sociais com a mesma rapidez do serviço de um bom restaurante de fast food.
A metáfora serve para explicar porque o ritmo carioca que desceu do morro e virou moda há quase 20 anos que evoluiu para uma febre (amarela ou dengue para os haters) no saudosista cenário musical brasileiro.
Em sua essência o funk é produto de consumo rápido, perde fácil a eficácia e deve ser consumido em ambiente de temperatura elevada - na ferveção da balada, de preferência. As músicas embrazam qualquer festa e são a antítese da sofrência - outro ritmo industrializado da nova música muito popular brasileira.
Sem querer problematizar o funk, artistas como a veterana Taty Quebra Barraco e a estreante Jojô Maronttinni (ex-Todynho, por questões comerciais) - e dezenas de web e subcelebridades - representam no Brasil o momento da cultura mundial em que ter talento, qualquer um que seja, é irrelevante para fazer sucesso. O que conta mesmo é manter o grande público interessado e consumindo a novidade, sempre ela - que pode vir sob qualquer forma; muitas vezes, quanto mais bizarro melhor.
Já se perguntou por que Adele tem pouco mais de 30 milhões de seguidores no Instagram enquanto Kim Kardashian West hipnotiza 106 milhões de almas sem oferecer nada além de si mesma para o consumo? Ou por que a bizarrice de Inês Brasil diverte tanta gente? Essa, até agora , tem escapado de ir pro saco.
Há muito que a obsolescência é uma característica da atualidade e tem no entretenimento um de seus exemplos mais latentes: filmes, livros, músicas e toda a sorte de produto produzido em série pela e para as mídias como forma de lazer, são criados com foco na sua substituição por algo mais interessante e que mantenha ou aumente o lucro. O flope não é uma opção na Indústria Cultural.
Poucos artistas conseguem se sobressair e/ou se manter num cenário tão instável. Madonna é, portanto, uma lenda viva e Anitta parece entender a lógica de mercado. Difícil dizer se a moça da Paradinha vai ter carreira tão longa quanto à da Rainha Mãe do Pop; enquanto mantiver a plateia entretida com seus truques, a majestade da música pop brasileira terá seu reinado garantido. No cenário internacional, Anitta recebeu senha de três dígitos pra fila do sucesso...
O funk é um fenômeno que sobrevive graças ao enxame perene de artistas que se lançam num mercado louco pela próxima batida que provoque a dança da chuva de visualizações e vídeos de gente desconhecida se candidatando ao próximo meme sensação.
Para os que curtem o ritmo, recomenda-se o consumo sem moderação - se possível respeitando a classificação indicativa de, no mínimo, 14 anos. Para os haters, aconselha-se o uso de fones de ouvido ou afastarem-se ao máximo da zona de tiroteio e duas dicas: aceitar (ajuda a diminuir a dor) o espírito desse tempo em que há lugar para todo tipo de expressão e lembrar que a grande maioria delas só duram um carnaval ou nem isso.
Adorei seu texto que deixa para o leitor o direito de pensar, analisar e decidir sobre a música “Que tiro é esse”, e ainda, não traz “juízos de valores e preconceitos”. Seu texto me chamou a atenção quanto ao mundo efêmero que estamos vivendo! Saber selecionar o que se deseja consumir por alguns segundos ou para um ano (seja música ou algo mais concreto) é o grande desafio!
Obs: não vou locar os fones de ouvido.. vou cair no ritmo com moderação e diversão, afinal, vai acabar depois do carnaval!
Texto suave e lúcido. Gostei.
E vou continuar usando os fones. =]
Entendo o ritmo do FUNK. entendo sua manifestação. mas...não consigo entender algumas letras e a maneira como viraliza. complexo! espero que essa febre que tiro foi esse não dure muito, pq sinceramente...