Sigo o perfil de um garoto no Instagram. É mais um entre milhares de contas de life style. As fotos e vídeos mostram o cotidiano de um rapaz de 25 anos, morador de cidade turística litorânea famosa no mundo todo. Na maioria das postagens, ele aparenta ser um cara good vibes, de bem com a vida, que adora sol, praia, pé na areia, a caipirinha , água de coco, a cervejinha e faz questão de estar quase sempre sem camisa ou de sunga.
Eis que recentemente, o garoto veio a público reclamar das mensagens e propostas indecentes que recebe inbox por conta do seu jeito sexy de ser. Sua indignação é que as pessoas só prestam atenção ao seu corpo e não na "mensagem" que quer passar... Acho curioso que uma pessoa que constrói uma imagem pública de si exaltando o físico fique incomodada com a repercussão dessa escolha. A Ciência explica...
A imagem que ilustra este post é um dos memes mais famosos do Brasil. A internet conta que trata-se do logotipo de uma igreja evangélica provavelmente criada por alguém que nunca ouviu falar de comunicação visual nem de produção de sentido. By the way, o nome da igreja é Teu Céu, tá?
Sentido é o entendimento que cada um de nós tem daquilo que vê, ouve ou lê. Num tempo em que nossa vida é constantemente atravessada pelas mídias, principalmente as sociais, estamos constantemente buscando entender, ou melhor, produzir sentido sobre aquilo que chega até nós seja pela TV, rádio e internet.
Absolutamente tudo que postamos na web é imediatamente interpretado por alguém. Da mensagem de Whatsapp aos stories, as pessoas estão sempre fazendo algum juízo de nós. E esse é o problema: existem dois tipos de juízo (ou sentido) - o pretendido e o produzido. O primeiro corresponde à sua intenção ao enviar à mensagem; o segundo é o que seu público entende daquilo que você disse...
Atire a primeira pedra quem nunca postou algo e foi "mal interpretado". É raro, mas acontece sempre... E não adianta reclamar! O público tem sempre razão porque o entendimento dele é o termômetro que aponta se sua mensagem realmente entrega a mensagem pretendida. Quantas campanhas publicitárias foram retiradas do ar e quantos desditos foram feitos por anônimos e famosos para conter a enxurrada de críticas após um mau dito?!
Para além do garoto carioca-swing-sangue-bom, há outros casos curiosos de interpretações divergentes como o da drag queen que dá serões de papo-cabeça no YouTube, mas fica possessa quando a audiência só quer saber qual a marca da maquiagem que ela usa. Sobre esse caso ouvi de uma amiga de vida e profissão que a gente não pode dizer para as pessoas como elas devem entender o que falamos (ou postamos).
O sentido que as pessoas fazem de nós é soberano. Se achamos que somos assim, mas nos entendem como assado, tem algo errado na nossa comunicação e construção de imagem. Lembrei de um telejornal americano tosco no qual as garotas do boletim do tempo tiravam a roupa ao passo que davam conta se ia chover ou não. Não lembro nem em que canal o programa era exibido porque a única coisa que guardo na memória é essa esquisitice mesmo.
A produção de sentido é levada tão a sério que não raro políticos contratam exércitos de marketeiros que consomem milhões para criarem ou recriarem a imagem dos contratantes junto aos eleitores. Você leitor não precisa de muito dinheiro para tentar passar a mensagem correta. Lembre sempre que quem vê close não vê corre quer dizer que aquilo que você posta nas mídias sociais é um recorte mínimo da sua vida real. Sempre se pergunte como você quer ser visto e ouvido. Ah! E não esqueça que, especialmente na internet, somos aquilo que dizem de nós e não aquilo que pensamos de nós mesmos.
No começo, discordei do título. Mas, com a leitura chego a concordar em partes. No fundo é uma questão de livre arbítrio, todos temos e é bom lembrar que, o plantio é facultativo e a colheita... a colheita é certa.
Excelente!
Leitura Contemporama atualizada com sucesso.