Não gosto de desafios, mas parece que eles me amam. Nessa relação unilateral, no entanto, costumo não fugir à luta - até porque quanto mais me escondo a peleja sempre me encontra. Já passei muito perrengue em combate, mas esse que relato aqui é um dos que mais me orgulham e emocionam.
Sou professor de inglês em um escola pública de idiomas cuja clientela é tão diversa quanto o mundo extramuros. Assim sendo, eis que um dia me deparo com uma aluna adolescente que me fez repensar tudo aquilo que aprendi na faculdade e depois dela.
Antes de continuar essa narrativa, preciso contar que recentemente essa aluna me procurou. Aproveitou que está fazendo um outro curso na mesma escola e pediu que a irmã, que sempre a acompanha, me levasse até à sala onde estava. Fiquei surpreso e feliz.
Ao entrar na sala onde minha ex-aluna estava, perguntei bem alto: "Será que ela ainda lembra da minha voz?". De longe Vitória deu o mesmo sorriso generoso de quando eu chegava na classe e cumprimentava a turma antes da aula começar...
Sim! Vitória é cega e, como disse, foi um dos meus maiores desafios como professor. Chegou na minha sala de aula pela primeira vez acompanhada da mãe meio aflita para me explicar a condição da filha. Eu a acalmei e garanti que tudo iria dar certo, mesmo não tendo nenhuma certeza.
Já havia passado por experiências parecidas, mas ensinar alguém como Vitória era algo novo. E como aprendi com ela. Sua disposição e vontade em aprender, a gentileza e o carinho que tinha e tem comigo e a força gigantesca da menina pequena e franzina foram uma inspiração para mim e para toda a turma.
Vitória mostrou muita facilidade de aprender a língua inglesa. Sua pronúncia clara e articulada me deixava encantado. Fui aos poucos aprendendo como guia-la nos exercícios usando sua audição, o tato, o toque... A turma toda se apaixonou pela pequena gigante.
Nunca se queixou ou desistiu de qualquer atividade individual, em pares ou grupos. Mostrava sempre disposição e uma certa alegria de fazer diálogos, participar de jogos e dinâmicas, sempre com um sorriso grande de orelha a orelha. Se deliciava com as descobertas durantes as aulas. Eu, por dentro, me emocionava e vibrava por suas conquistas e meus aprendizados.
Suas notas estavam sempre entre as melhores. Sempre me impressionava a segurança com que fazia as provas, sempre sorrindo e com boa vontade. Às vezes tinha a impressão de que ela se divertia nas aulas. Era encantador vê-progredindo. Não foi difícil para ela seguir para o módulo seguinte.
E qual não foi minha surpresa em saber quando nos reencontramos que Vitória hoje está na faculdade. Nosso encontro recente foi rápido, mas suficiente para reviver memórias valiosas de quando, mais um vez, meus alunos me ensinaram mais do que eu a eles. Para todos que acham que não podem, não devem e não vão conseguir, pensem e lutem como Vitória...
Que história inspiradora e bonita, a arte de ser professor :)
Obrigada por compartilhar experiências tao encantadoras e singular como essa.
Essas experiências são únicas, tenho as minha, graças à Deus. Mas é sempre estimulante e EMOCIONANTE ler, saber e sonhar com a humanidade.