Tenho aversão a fotografias desde criança. Naquela época já estragava os registros de família com meus mungangos. Nunca aprendi a fazer selfies. Quando não posso escapar dos cliques, passo horas examinando cada defeito real e imaginário da minha imagem. Se alguém aí checar minhas mídias sociais, vai constatar que sou de outro planeta devido à carência fotos minhas nesses espaços.
Por outro lado, sou observador atento das postagens alheias e geralmente minhas reações são despertadas pelo grau de exposição que as pessoas são capazes de atingir para ser tornarem digitalmente "queridas". O corpo é o suporte principal para chamar atenção. Nada de novo sob o sol: na Grécia antiga a apreciação do corpo nu já estava na base dos costumes do povo a quem devemos o ideal de beleza física.
A grande diferença entre os "deuses gregos" e nós reles mortais é que, vestidos ou completamente nus, temos uma necessidade premente de sermos queridos, apreciados, acolhidos e incluídos. Na Idade Mídia mede-se a importância de alguém pela quantidade de seguidores e likes que ele ou ela tem no Facebook, Instagram, Twitter...
Virou "profissão" e meio de vida lutar diariamente para que suas opiniões e imagens continuem agradando à maior quantidade de pessoas possível. Incrível como coreografias caseiras para hits do momento hipnotiza e faz sonhar. Nesse planeta digital, citando Anitta, artista que forçou a indústria da música nacional a adotar o número de visualizações no YouTube como régua do sucesso, "não se pode não gostar". Há quase sempre que se concordar com a maioria porque o cancelamento tá aí, embora ninguém queira cair nele.
Nas últimas semanas eu e o Brasil temos acompanhado o drama mais recente do Big Brother Brasil 21: o calvário autoinfligido da atriz Carla Diaz (foto /TV Globo) em busca do bem querer do crossfiteiro Arthur Piccoli. Nem nos seus mais auspiciosos sonhos das Arábias, a artista jamais imaginou que sua participação no reality show, como parte de estratégia de divulgação de filme em que é protagonista, a faria virar a otária mor desprezada pelo Johnny Bravo da vez.
Palpiteiro como ele só, o brasileiro cuidou logo de criar uma lista de razões e soluções fáceis para o sofrimento da sister. O chá mais receitado foi o de amor próprio. Só esqueceram de dar a receita para algo que leva tempo e uma boa dose de força de vontade.
Em terra de arroba não existe não ser querido, gostado, admirado. Muito mais fácil fingir que não é com você. Aceitar que não fazemos a mínima diferença para alguém não é um opção. Até porque sempre podemos virar a página, apagar a foto, o post, fazer um vídeo novo, partir pra outra... Caso contrário, seguimos fingindo que não dói.
Há algum tempo passei pela experiência do afastamento de pessoas importantes pra mim. Minha primeira reação foi forçar aproximação a todo custo: mensagem, convite pra vinho, café, Netflix, etc. A pandemia virou uma excelente desculpa para atenuar o não.
Falamos tanto em empatia, principalmente para os outros, e é justamente nela que encontrei um efervescente para o mal estar de levar um "zigue". Tentei entender o porquê da distância. A gente sempre acha que fizemos alguma coisa errada. Pode até ser que tenhamos feito mesmo, no entanto, essa dor aí é na consciência e esse é um outro paredão que teremos que enfrentar.
O fato é que não queremos aceitar a amarga verdade de que não somos mais queridos ali. A nossa ostensiva falta de empatia não nos deixa entender que o objeto do nosso afeto já não nos vê mais da mesma forma porque ele mudou. As pessoas mudam o tempo todo e, muitas vezes, para lugares para onde não as podemos acompanhar.
Quem quer, vai atrás. Quem quer também vem atrás. Ser excluído, abandonado, propositadamente esquecido faz parte do se permitir ter relacionamentos dos mais diferentes graus. Se fizermos a contabilidade, vamos perceber que temos mais gente ao nosso lado do que espaços vazios.
Mas por que o abandono dói tanto? Temos que voltar ao início do post para responder: não gostamos de não sermos gostados. Esse item não é opcional e já vem de fábrica; se não podemos mudá-lo, ponhamos em prática o seguinte mantra: rejeição é coisa que dói, mas passa. Junte a ele um pouco de maturidade porque quem grita e chora para ter atenção, pode ainda estar na fase oral em plena idade adulta.
Seu texto é excelente, só me fez refletir!
Sempre achei o BBB um experimento social que serve de muita reflexão para quem assiste. Lá dentro cria-se uma mini sociedade com suas próprias regras e leis de como se portar e ser aceito. Juliete e Lucas, por exemplo, não foram aceitos nas primeiras semanas por descumprirem alguma regra escrita em um livro invisível... com isso veio a sentença: desprezo, humilhação...essa era a pena. Aqui no mundo de fora também nos sentimos obrigados a cumprir com essas regras invisíveis...ter seguidores, fotos em lugares vips, ou tumbrl te fazem ter status, ninguém posta o que realmente quer ou como se sente... vivemos em uma epidemia de fotos iguais, dancinhas iguais, frases iguais... quem não segue esse padrão é esquecido e engolido…