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  • Foto do escritorEugênio Rego

No BBB você não escolhe o vencedor

Conversando com um amigo apaixonado pelo Big Brother Brasil, cuja 23ª edição estreia hoje, na TV Globo, o que mais me chamou a atenção foi sua lista de estratégias para ganhar o reality show mais famoso da televisão brasileira. "Você tem que jogar pro público e não pra a casa", "tem que ser autêntico", "ser polêmico porque é isso que o povo gosta"...


Escutei atentamente as análises do expert entusiasmado que sequer enviou um vídeo de inscrição, até o ponto em que perguntei se ele acha realmente que quem escolhe o vencedor é o publico. "Claaaro que sim!". Do pouco que entendo sobre reality shows, acredito que essa seja a opinião da grande maioria da audiência brasileira.


Nunca fui um grande fã do BBB e similares, mas entendi logo cedo que a única diferença entre eles e a novela das 9 é que, até que a internet descubra que é fake, os participantes são pessoas comuns, confinadas em uma casa luxuosa e que vão se amar e matar conforme o andar dos episódios. Nas últimas três edições, o reality da Globo incorporou famosos e influencers digitais na tentativa de se reinventar.


Assim como na novela, da chegada dos participantes à Casa até o paredão final há dezenas de capítulos editados que vão ao ar todas as noites no horário nobre da TV aberta. É aí onde mora toda o segredo do jogo: a edição narrativas e aponta os mocinhos, bandidos, pares românticos e abre espaço para tretas homéricas que vão temperar o produto televisivo pelos próximos meses. Qualquer semelhança entre o BBB e as novelas da Globo não são mera coincidência...


Se o vencedor tiver carisma, singularidade, coragem e talento, tanto melhor porque será transformado em produto com vida útil longa na mídia. Não é segredo nenhum que toda emissora deseja que, para além do sucesso de audiência, seu reality show crie a próxima grande estrela ou astro das telinhas e touch screens. Isso fortalece a marca porque o reinado do campeão vai manter viva a memória do programa no recall das propagandas, entrevistas, posts, presenças vip e ações de publicidade estreladas pelo nov@ milionári@ da TV.


Um exemplo de produto de sucesso do BBB? A atriz Grazzi Massafera (acima). A ex-Miss Paraná e Top 3 no Miss Brasil entrou na casa para "viver" a menina do interior, linda, doce e ingênua que se entrega a um romance aos olhos do público e fatura o posto de vice-campeã do BBB5.


A hoje atriz e apresentadora é a prova de que nem sempre o vencedor leva tudo. Depois do programa, Grazzi viu sua carreira de celebridade disparar; pouco depois tornou-se atriz. Lembrou da Juliette? Pois é... É pra isso que a edição também serve: ressaltar defeitos e qualidades que tornarão um jogador amado ou odiado na mesma proporção, com uma ajudinha do seu (des)afeto por ele, claro.


Se você leu esse texto até aqui, mas ainda se pergunta quem diabo vai lembrar de prestar atenção nas estratégias de criação de personagens e narrativas na hora da treta fortíssima (Alô, Jaquepatombá!) ou do edredon animado? Meu amigo expert ainda diria que no pay-per-view não tem edição e, portanto, que a manipulação da audiência é assunto discutido exaustivamente.


Esse é um debate científico e longo que não cabe nesse post, mas é ponto pacífico que ninguém convence ninguém de alguma coisa se não houver um mínimo de identificação com aquilo que é dito ou mostrado. Isso se chama de viés de confirmação e é o que alimenta as fake news mundo afora. No caso dos reality shows a fala, o comportamento e como os jogadores são mostrados para o público é que vão contribuir para a torcida contra ou a favor do público. Os números de audiência e views do BBB provam que o programa desperta sim o interesse de um público gigantesco.


As vendas de assinatura para canais pagos e streaming costumam bater recorde durante o período em que o reality está no ar e a audiência da TV aberta não fica atrás. A exibição dos "capítulos" editados em horário nobre ainda são - e me arrisco a dizer que continuarão sendo - o principal produto para o grande público que vai continuar comprando a narrativa do folhetim disfarçado de jogo da vida real.


Assim como a novela das nove, o BBB também é uma obra aberta, ou seja, vai mudando de acordo com o ânimo do público. Não há quase nenhuma diferença entre os dois produtos, a não ser o fato de que naquele o voto do público vai endossar a vitória do personagem-jogador cuja trajetória dentro da Casa tem potencial de sobrevida longa fora dela. No BBB você não escolhe o vencedor porque ele já foi previamente escolhido. Né não, Grazzi?!








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