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  • Foto do escritorEugênio Rego

"Meu Pai" é retrato pertubador da velhice

Uma das experiências mais interessantes que tive como professor universitário foi contemplar a catarse coletiva de uma turma de estudantes depois da exibição de "Amor" (2012). O filme de Michael Raneke, concorreu ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira e rendeu a estatueta de Melhor Atriz à francesa Emanuelle Riva.


A produção tem apenas um cenário - um risco controlado apenas por um roteiro e uma direção brilhantes - o apartamento onde a personagem de Riva e seu marido, ambos idosos, vivem a crueza de definhar e morrer. A solução escolhida pelo marido para amenizar o sofrimento da companheira de uma vida é cruel, dura, rápida e destemida.


Depois de quase duas horas de exibição do filme, meus cerca de 25 alunos permaneceram calados por vários minutos provavelmente impactados pela simplicidade e profundidade do filme que reflete sobre a extrema fragilidade humana que se agiganta ao chegar perto do amargo e inevitável fim da vida.


Lembrei da catarse dos meus alunos frente ao filme de Haneke quando assisti a "Meu Pai" (2020), do dramaturgo francês Florian Zeller. Ambos são catárticos ao abordar o mesmo tema - envelhecer e morrer - embora assumam caminhos diferentes.



Colman e Hopkins em cena: Cinema com c maiúsculo

Baseado na peça de teatro homônima, a produção anglo-francesa, testemunha o definhar de Anthony (Anthony Hopkins) que aos 81 anos começa a ser preparado pela filha única (Olivia Colman) para viver sozinho depois que ela se mudar com o novo namorado para Paris. Esse é o começo de uma série de acontecimentos estranhos no apartamento e na vida do senhor octogenário que levam ele e o espectador a desconfiar de sua sanidade mental e do amor da filha pelo pai idoso.


"Meu Pai" é filme para quem ama o Cinema com inicial maiúscula, aquele que deita uma lente de aumento sobre a amarga felicidade na qual se debate o ser humano. A produção nos convida a olhar o mundo pelos olhos do homem de 81 anos, deixado para viver sozinho com lembranças de uma vida da qual nem ele mesmo tem certeza ter vivido.


A dúvida, a incerteza e o medo fazem companhia à Anthony durante toda narrativa: pessoas estranhas entram e saem da sua casa como mágica, o relógio de pulso favorito desaparece sem explicações, datas e horas se confundem em dias sem fim... Estaria o velho Anthony ficando louco? O desconforto do espectador é inevitável.


Os pontos altos do filme são os embates e diálogos entre o impagável Anthony Hopkins e a majestosa e econômica Olívia Colman - Oscar de Melhor Atriz por "A Favorita" (2019), atualmente em cartaz na Netflix em "The Crown".


Eu tinha a profunda certeza de que Hopkins seria poderoso e devastador no papel.”, revelou o diretor Florian Zeller

Auxiliado por uma equipe talentosa que vai além do elenco de atores, o diretor Zeller, autor da peça que inspira o filme, comanda com maestria a narrativa visual que mescla teatrão e cinema. A direção de fotografia e a escolha por pouquíssimas sequências externas reforçam esta sensação. A duração de 1h30 também reforça o ar teatral e dá agilidade à trama.


O final da saga de Anthony, no entanto, não é rápido e trágico como o da protagonista de "Amor", mas é tão amargo, comovente e desesperador quanto - morrer em vida é também uma forma de deixar de existir para tudo e para todos.


"Meu Pai" concorre a seis Oscar, entre eles Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro adaptado já está disponível para streaming nas plataformas Now e ITunes (Apple TV) e Google Play e chegará ao Sky Play e Vivo Play em 28 de abril.


*O blog assistiu ao filme a convite da assessoria de imprensa da Califórnia Filmes



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3 Comments


Jakson Ribeiro
Jakson Ribeiro
Apr 15, 2021

Uma análise bem pontuada onde se percebe uma sensibilidade do autor em envolver o leitor em sua análise, como também para assistir o filme em questão. PARABÉNS!!

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Guto Noronha
Guto Noronha
Apr 15, 2021

Uau, sempre fico boquiaberta quando leio narrativas que me levam algum lugar, aquele que vai além do que imaginávamos num minuto atrás. Gosto da forma que expõe o pensando, dando-nos uma ideia de que, talvez, nem seja mais necessário ver a película citada, porém a própria nos instiga seguir em frente, e ser leitor descumpridor de regras. Parabéns amigo.

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Eugênio Rego
Eugênio Rego
Apr 15, 2021
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Obrigado, meu querido! Muito valioso seu comentário.

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