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  • Foto do escritorEugênio Rego

"Barbie" é um milkshake de limões

Certa vez ouvi de um artista renomado que caso seu público lhe atirasse tomates, ele faria com eles uma deliciosa salada. Agora imagine passar a vida inteira sendo criticada e acusada de praticamente ser a causa de todos os males do mundo e ainda fazer um filme - e vê-lo faturar a fortuna de 1 bilhão de dólares (cerca de 4,5 bilhões de reais)? O live-action "Barbie", o mais recente fenômeno da cultura pop mundial, está disponível no streaming. A chegada da produção na internet é a chance para quem torceu o nariz por achar que o filme da boneca mais amada e odiada do mundo não merecia atenção, iria acabar com o patriarcado ou ainda estimular a sexualidade precoce. A única revolução que "Barbie" conseguiu até agora foi mostrar que um roteiro despretensioso, conscientemente nonsense e usa acusações históricas contra um brinquedo infantil, mobilizou o planeta inteiro e entrou para a lista das maiores bilheterias do cinema mundial. Mas afinal, por que o filme "Barbie" faz tanto sucesso? A receita é simples: a diretora e roteirista Greta Gerwig escolheu brincar e usar todos os tomates e limões que a boneca recebeu desde seu lançamento pela Mattel em 1959. Criada como símbolo de liberdade de escolha para as mulheres, o brinquedo foi se adaptando às mudanças sociais, mas não foi poupado de ser sexista, excludente e cristalizar um padrão de beleza.


O "debate social" é a linha condutora da narrativa que se inicia quando o mundo cor de rosa da Barbie (Margot Robbie) trinca com o surgimento do primeiro conflito em sua cabecinha loira de cabelos bem escovados. A partir da daí, a boneca se dá conta de que há um mundo real (cruel e dolorido) além do arco-íris que, lugar que talvez tenha as respostas para as recém-adquiridas angústias de sua vida de plástico. A crise existencial é a primeira grande piada apresentada pela genial Greta Gerwig. A diretora e roteirista acertou ao escolher mostrar que o mundo criado pela Mattel nunca foi só de perfeição, magreza, sucesso, glamour e festa. Greta traz à cena lançamentos da coleção de brinquedos que não deram certo: a Barbie grávida (descontinuada ser considerada imprópria para crianças), a Barbie Estranha (massacrada donos), Alan (o amigo do Ken, fracasso de vendas) e o eterno namorado de Barbie que surta ao reconhecer que ele só existe devido à namorada famosa. Há ainda uma sátira à guerra dos sexos que termina num grande musical depois de uma batalha entre Kens e Barbies numa praia dos sonhos...

Na sua saga no mundo real, Barbie (e Ken) repensam suas vidas como bonecos sem genitais (outra boa piada), liberdade de escolha, os papéis do homem e da mulher, entre outros papos brabos em cenas cheias de fina ironia e sarcasmo. Para além de ter esgotado os estoques de tinta rosa no mundo e despertar a ira de conservadores tóxicos de todos os lados, "Barbie" é um dos filmes mais inteligentes da cultura pop, não pode nem deve ser levado a sério e precisa de uma dose de entrega do público para entender o chiste na tela.


Nenhuma campanha publicitária sozinha seria capaz de levar milhões de pessoas às salas de cinema sem a ajuda de um bom boca-a-boca. Quem achava que o filme é uma adaptação dos desenhos da boneca, se enganou. O filme não é para crianças (classificação 12 anos), mas agrada muito àquele menino e menina internos. Em resumo, "Barbie" é um filme que não se leva a sério, não se pretende ser memorável, também não quere ser inspirador muito menos deixar mensagens. É apenas uma produção que entrega uma deliciosa salada de tomates acompanhada de milkshake feito com os limões da História. Preste atenção na cena final quando Barbie, no mundo real, vai ao médico. É a cereja que faltava! O filme está disponível para aluguel no Prime Video, Google Play, iTunes e Claro TV+

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1 Comment


kwfaraujo
May 04

Você é gênio. Sou fã.

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