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  • Foto do escritorEugênio Rego

A verdadeira cor da Esperança

Atualizado: 21 de nov. de 2021

Quando soube que iriam adaptar pro cinema meus quadrinhos preferidos desde quando era menino "véi", comecei a contar os dias para ver a top model Naomi Campbell como Tempestade, a deusa africana dos X-Men que tem o poder de controla o clima. A decepção foi inversamente proporcional à expectativa: o diretor Bryan Singer achou por bem escalar a atriz Halle Berry para o papel.



Passei anos inconformado com Singer por não ter escolhido Naomi ou a sudanesa Iman - também modelo famosa cuja beleza fisgou David Bowie - para dar corpo e alma à mutante Ororo Monroe. Bem depois descobri, assistindo a uma palestra sobre adaptações de livros para o cinema, que a busca por atores e atrizes para interpretar esse ou aquele papel se baseia no talento dos artistas para envergar a personagem; critério mais óbvio não poderia existir.


Naomi e Iman tinham o physique du rôle, mas será que dariam conta de interpretar uma das principais heroínas do filme que reinaugurou as produções de super-heróis no cinema mundial? Essa pergunta me veio à cabeça novamente há pouco tempo quando soube da montagem da peça teatral baseada na biografia de Esperança Garcia, mulher negra que entrou para a história como a primeira advogada do Piauí ao denunciar às autoridades no Piauí do século XVIII os maus-tratos e abusos sofridos por ela e o filho.


A montagem, infelizmente, se tornou mais conhecida pela polêmica sobre a intérprete do papel principal do que pela riqueza da biografia da retratada. O diretor escalou a atriz piauiense Gyselle Soares (vice-campeã do BBB 2008) para o papel de Esperança. Ativistas negros torceram o nariz para a escolha que consideraram um "retrocesso" para a visibilidade de artistas de cor. Em sua defesa, o diretor garante que pediu ajuda aos mesmos grupos que o criticaram para escalar uma atriz negra para o papel, mas foi solenemente ignorado.



Essa semana, Esperança Garcia volta à cena em Teresina, dessa vez em um longa-metragem (acima), dirigido Flávio Guedes. A personagem histórica nessa produção é interpretada por uma atriz negra. Estou curioso para conferir a adaptação não apenas pela personagem principal cuja ousadia e coragem a transformaram em um mito revolucionário, mas pela guerra que é fazer cinema no Piauí.


Confesso que quando penso em Esperança Garcia, me vem à cabeça menos Gyselle Soares e muito mais a atriz piauiense Tércia Maria. Confesso também que gosto mais quando o cinema e sua habilidade de imprimir a sua versão da realidade, não torce (tanto) a coluna dorsal da História. Cresci assistindo a Cleópatra de Elisabeth Taylor e já estou preparado para versão de Gal Gadot da rainha icônica para breve. Até me contento que Angelina Jolie não tenha sido escolhida para Mulher Maravilha, mas de Esperança Garcia como ela é não abro mão.

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