Com o excelente drama estrelado por Bredan Fraser, Darren Aronofski está perdoado de qualquer erro que tenha cometido na sua carreira de diretor até aqui. Depois do surto de "Mãe !" (2017) o cineasta inglês volta a nos incomodar - dessa vez pelos motivos certos - com seus filmes dramáticos beirando o melodrama, cheios de simbologias e que calam fundo na alma.
Dessa vez o drama trágico de Charlie, um professor que abandonou a esposa e filha para viver um grande amor, nos apresenta a uma sucessão de punições sem tréguas que nos fazem retorcer na poltrona. Adaptado da peça homônima escrita por Samuel D. Hunter - que também assina o roteiro do filme -o filme escancara os últimos dias de um homem com obesidade severa, mas caminha voluntariamente a passos rápidos para a morte depois que tudo em sua vida - menos a comida - faz mais sentido.
"A Baleia", assim como o excelente "Meu Pai", é um filme perigoso porque concentra a ação mais na interpretação dos atores do que na profusão de sequências e cenários características do cinema. O calvário de Charlie se passa entre a sala, o quarto e varanda de sua pequena casa no interior de Idaho, nos EUA., num inverno frio e chuvoso. O local sujo, fedido e algo sombrio reflete a mente e a vida do professor de inglês que dá cursos online de redação sem nunca ligar a câmera do computador por temer a reação dos alunos ao seu corpo.
Não bastasse a compulsão por comida, o protagonista ainda tem que lidar com o sentimento de desespero e a culpa que lhe acompanham por abandonar a filha de oito anos e mais tarde perder o marido para o suicídio. O que restou a Charlie foi apenas a vontade de morrer dissociada da coragem de abreviar a vida. Comer até morrer e corrigir redações de seus alunos são os pilares da vida da pobre figura.
Como nos filmes de Aronofosky desgraça nunca é demais, a filha (Sadie Sink, de Stranger Things) resolve procurá-lo para descarregar toda a frustração e mágoa cultivadas por quase uma década. E Ellie não poupa o pai de nenhuma palavra ou ato que reforce o desprezo e o desejo de vingança que ela por ele. "Ela é um monstro", reconhece Mary, a mãe interpretada brilhantemente por Samantha Morton (a Alfa de The Walking Dead). O único suspiro de Charlie são as visitas de Liz (Hong Chau), a amiga enfermeira que, entre tapas de beijos, o alimenta, consola e o salva da morte em algumas ocasiões.
Todas as críticas apontam Brendan Fraser como o ganhador do Oscar de Melhor Ator no Oscar 2003. Apesar do começo melodramático, tanto a atuação do ator como o roteiro vão se tornando mais orgânicos no decorrer da trama e estabilizam numa produção de grande efeito emocional no espectador.
Fraser usou 25 quilos de próteses de silicone sobre o corpo para compor o visual do personagem, mas é na fragilidade, bondade a amargura de Charlie dosadas sutilmente pelo ator que mostra trabalho. Ele torna a dor do professor obeso mórbido seja até mesmo palpável.
"A Baleia" assim como "Meu Pai" são filmes de cinema com c maiúsculo: o homem e suas tragédias e alegrias são o centro da ação e o que realmente importa. Ano passado Anthony Hopkins levou a estatueta que em 2023 pode ir parar nas mãos de Fraser. Curiosamente ambos os filmes são adaptações de peças de teatro.
PS: Os membros da Academia de Cinema de Hollywood adoram interpretações do tipo "um espírito baixou em mim" reforçadas por uma transformação física. Brendan Fraser é a bola da vez...
Já tava querendo assistir. Agora estou mais curioso
Que resenha, já anotando aqui pra assistir.
Ainda não vi, mas está na minha lista sim.